Uma
alucinação indescritível, inexplicável, a minha cabeça é capaz de
produzir imagens e cores que não existem, eu estou enlouquecendo, veja que
ironia.
Os
dias se vão com o vento, como uma brisa, o meu passado está vindo para me
confundir, para me entristecer por tudo o que passou e por tudo o que eu não fui
capaz de fazer. Tenho que me manter intacta, pois sei isto não está acontecendo.
Mas
em frações de segundos, me transporto para outro lugar, tão distante
quanto o Sol é da Terra, distante de tudo. Parece que cheguei ao paraíso, posso
avistar à frente um imenso lago azul, com areia cristalina, vários coqueiros
perdidos e então, sinto uma forte dor de cabeça ao olhar o céu.
O
céu não é como costumamos ver, aquele azul não existe, o céu parece um
arco-íris. Cada cor simboliza um sentimento, e talvez seja por isso que eu
esteja mal, ao o observar vejo os meus sentimentos transparecendo, me sinto
frágil.
Conforme
vou arrastando os meus pés na areia, vou me despedaçando, em cada passou vou
perdendo um pouco do que eu sou, do que me transformei. Sinto tanto calor,
tanta fome, uma vontade repentina de sair gritando a liberdade, estar perdida
em um lugar assim tem lá o seu lado bom. Se eu vou viver na loucura, então que
seja uma loucura gostosa e minha.
Têm
muitas arvores frutíferas ao meu redor, mas não me sinto segura o suficiente
para pegá-las. Eu estou em frente ao pé de macieira, é uma maça tão
vermelhinha, parece tão saborosa, acho que não vai me fazer mal comê-la... Em
cada mordida vou secando a minha fome, os meus dentes marcaram a maça, cortaram
um pedacinho do bichinho que eu não tinha visto. Mas ele ainda está vivo,
parece um verme, bem, não se é um verme... Bicho de fruta, fruta é. Ele está se
contorcendo, e está me dando nojo.
Acho
que estou só, não vejo ninguém, os únicos baralhos que eu ouço são os da minha
mente, a minha voz, porque eu estou falando sozinha? Os pássaros se amam e se entrelaçando no céu, seguem formando e trazendo a paz. A sagrada paz que eu tanto
prezo!
O
sol já está indo embora, ele vai me deixar a escuridão e o brilho das estrelas.
A minha solidão vai me sufocar. De tanto pensar e de tanto enxergar, acabei
perdendo os meus sentidos e só agora vejo que estou nua. Será que eu estou
vivendo o começo dos tempos, donde havia Adão e Eva?
Aquelas
cores que estão sobre a minha cabeça, se refletem no mar, se refletem no mundo, se
embaralham com o pôr-do-sol.
Vou
dormir sobre as folhas dos coqueiros que estão no chão. Vou me deitando
devagarinho, observando os movimentos inexistentes para me certificar de que
estou sozinha. Nunca havia reparado na lua e nas estrelas como agora, elas irão me proteger!
Parece
que está tudo na mente, vou adormecendo e ouvindo de fundo alguém conversando
comigo, estou respondendo em pensamento:
-
Você pode ver o que está acontecendo?
-
Mas o que está acontecendo?
-
Olhe para cima e verá.
-
Eu não posso, os meus olhos estão colados.
-
Por que diz isso? O que você acha que está acontecendo?
-
Acho que estou ficando louca, estou conversando sozinha, mais uma vez.
-
Ah. Seja sincera consigo mesma, você meteu os pés pelas mãos.
-
Quem você pensa que é para me julgar?
-
Sou você.
-
Impossível.
-
Não! Sou a sua voz interior, você se entende conversando comigo, sua voz
interior.
-
Abra os olhos.
Eu
estou com medo de abrir os olhos, essa "voz interior" está me
confundindo, eu sei onde estou. Estou perdida em uma ilha paradisíaca.
Vou
abrindo aos poucos, e quanto mais abro, mais me decepciono. Onde eu estava? Onde
estou? Voltei para a realidade, eu estou sentada em um ônibus voltando do
trabalho, são exatamente 21h00. Eu não consigo acreditar que viajei para
outro lugar.
Eu
estava tão bem há poucos minutos atrás, e agora já estou mal. Preciso de um
conforto pois estou me esforçando para fugir da realidade, eu estava vivendo
uma utopia, mesmo que por meia hora. Eu estava bem!
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