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22 de abril de 2013

Paraíso Artificial

Uma alucinação indescritível, inexplicável, a minha cabeça é capaz de produzir imagens e cores que não existem, eu estou enlouquecendo, veja que ironia.
Os dias se vão com o vento, como uma brisa, o meu passado está vindo para me confundir, para me entristecer por tudo o que passou e por tudo o que eu não fui capaz de fazer. Tenho que me manter intacta, pois sei isto não está acontecendo.
Mas em frações de segundos, me transporto para outro lugar, tão distante quanto o Sol é da Terra, distante de tudo. Parece que cheguei ao paraíso, posso avistar à frente um imenso lago azul, com areia cristalina, vários coqueiros perdidos e então, sinto uma forte dor de cabeça ao olhar o céu.
O céu não é como costumamos ver, aquele azul não existe, o céu parece um arco-íris. Cada cor simboliza um sentimento, e talvez seja por isso que eu esteja mal, ao o observar vejo os meus sentimentos transparecendo, me sinto frágil.
Conforme vou arrastando os meus pés na areia, vou me despedaçando, em cada passou vou perdendo um pouco do que eu sou, do que me transformei. Sinto tanto calor, tanta fome, uma vontade repentina de sair gritando a liberdade, estar perdida em um lugar assim tem lá o seu lado bom. Se eu vou viver na loucura, então que seja uma loucura gostosa e minha.
Têm muitas arvores frutíferas ao meu redor, mas não me sinto segura o suficiente para pegá-las. Eu estou em frente ao pé de macieira, é uma maça tão vermelhinha, parece tão saborosa, acho que não vai me fazer mal comê-la... Em cada mordida vou secando a minha fome, os meus dentes marcaram a maça, cortaram um pedacinho do bichinho que eu não tinha visto. Mas ele ainda está vivo, parece um verme, bem, não se é um verme... Bicho de fruta, fruta é. Ele está se contorcendo, e está me dando nojo. 
Acho que estou só, não vejo ninguém, os únicos baralhos que eu ouço são os da minha mente, a minha voz, porque eu estou falando sozinha? Os pássaros se amam e se entrelaçando no céu, seguem formando e trazendo a paz. A sagrada paz que eu tanto prezo!
O sol já está indo embora, ele vai me deixar a escuridão e o brilho das estrelas. A minha solidão vai me sufocar. De tanto pensar e de tanto enxergar, acabei perdendo os meus sentidos e só agora vejo que estou nua. Será que eu estou vivendo o começo dos tempos, donde havia Adão e Eva?
Aquelas cores que estão sobre a minha cabeça, se refletem no mar, se refletem no mundo, se embaralham com o pôr-do-sol. 
Vou dormir sobre as folhas dos coqueiros que estão no chão. Vou me deitando devagarinho, observando os movimentos inexistentes para me certificar de que estou sozinha. Nunca havia reparado na lua e nas estrelas como agora, elas irão me proteger! 
Parece que está tudo na mente, vou adormecendo e ouvindo de fundo alguém conversando comigo, estou respondendo em pensamento:
- Você pode ver o que está acontecendo? 
- Mas o que está acontecendo? 
- Olhe para cima e verá.
- Eu não posso, os meus olhos estão colados.
- Por que diz isso? O que você acha que está acontecendo?
- Acho que estou ficando louca, estou conversando sozinha, mais uma vez.
- Ah. Seja sincera consigo mesma, você meteu os pés pelas mãos.
- Quem você pensa que é para me julgar?
- Sou você.
- Impossível.
- Não! Sou a sua voz interior, você se entende conversando comigo, sua voz interior. 
- Abra os olhos.

Eu estou com medo de abrir os olhos, essa "voz interior" está me confundindo, eu sei onde estou. Estou perdida em uma ilha paradisíaca. 
Vou abrindo aos poucos, e quanto mais abro, mais me decepciono. Onde eu estava? Onde estou? Voltei para a realidade, eu estou sentada em um ônibus voltando do trabalho, são exatamente 21h00. Eu não consigo acreditar que viajei para outro lugar.
Eu estava tão bem há poucos minutos atrás, e agora já estou mal. Preciso de um conforto pois estou me esforçando para fugir da realidade, eu estava vivendo uma utopia, mesmo que por meia hora. Eu estava bem!
A minha mente vai criando pessoas, objetos, lugares e sentimentos, me fazendo acreditar que tudo que eu estou vivendo é realidade. Belisque-me, acho que viajei de novo. Como vou saber se estou vivendo ou sonhando?

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